Hoje resolvi trazer uma reflexão.
Quem assistiu ontem as reportagens do Fantástico
sobre gestantes usuárias de Crack, e a outra reportagem sobre o assassinato de
uma adolescente de 15 anos, deve estar se perguntando qual a relação ou o que
um caso tem haver com outro, ou até mesmo com a psicopedagogia, bem, colocarei
aqui pequenos trechos de textos:
O bebê não sabe. E
a mãe?
Mães que abusaram
da cocaína ou do crack durante a gravidez podem ter bebês prematuros, de baixo
peso e com dificuldades de aprendizagem.
O doutor Dráuzio Varella mostrou a vida de jovens dependentes que
engravidam e, mesmo assim, continuam se drogando.
Como ajudar essas mulheres? Que tipo de vida espera esses bebês?
Samara tem 21 anos e não é uma gestante qualquer. Ela usou crack durante as 20 primeiras semanas de gestação, desde a fase mais inicial da formação do feto.
Letícia, de 18 anos, acabou de ter seu primeiro filho. E ainda na mesa do parto precisa dar uma informação que pode fazer toda a diferença para a vida dela e da criança: ela fumava maconha, crack e usava cocaína.
Samara tem 21 anos e não é uma gestante qualquer. Ela usou crack durante as 20 primeiras semanas de gestação, desde a fase mais inicial da formação do feto.
Letícia, de 18 anos, acabou de ter seu primeiro filho. E ainda na mesa do parto precisa dar uma informação que pode fazer toda a diferença para a vida dela e da criança: ela fumava maconha, crack e usava cocaína.
A maconha quando usada por gestantes afeta o cérebro do feto, atrapalhando
as conexões dos neurônios na fase crítica do desenvolvimento cerebral.
Os receptores dos endo-canabinóides, a “maconha endógena”, ou seja, a
que é produzida no organismo tem por função coordenar as células nervosas em
formação para o desenvolvimento de suas funções, como: pensar, falar, se
movimentar e se emocionar.
Este sofisticado e frágil sistema é seriamente prejudicado com a
presença de canabinóides externos, provindos da maconha.
A cocaína é potente vasoconstrutor e diminui o diâmetro dos vasos
sanguíneos, representando grande risco para o feto, ao provocar lesões graves
no cérebro, más formações no intestino, crânio, face, olhos, membros, coração,
genitais e aparelho urinário, microcefalia (cérebro pequeno), retardo mental e
de crescimento.
Pode também provocar descolamento de placenta prematuro e aborto. Além
disso, pode causar também o nascimento de crianças agitadas, insones e com
dificuldades visuais. Não menos lamentável é que pode também provocar partos
prematuros, com suas conseqüências e dificuldades na visão, audição e
aprendizado no futuro.
Agora partes do
trecho da reportagem do caso da adolescente assassinada:
Na rua, Caroline e Jardel (namorado), foram seguidos por dois
assaltantes. Um é Marcus Vinícius Gomes, de 19 anos. O outro: Alex Venâncio, de
18. O que estava na frente sacou a arma, próximo dele, e falou: eu vou atirar,
eu vou atirar. E ela ficou segurando a mochila e gritando. Na hora que eu
pensei em puxar ela, ele já puxou o gatilho”, conta o namorado.
Marcus Vinícius e Alex Venâncio fugiram - com as mochilas do casal – num
carro, que tinha sido roubado por eles uma semana antes. Quem dirigia era
Claudinei Modesto, 18 anos.
Marcus Vinícius - o que confessou
ter atirado em Caroline - não terminou o primeiro grau.
Com 15 anos, foi
internado por tráfico de drogas na fundação casa - a antiga FEBEM. Lá dentro,
ele e um grupo de rapazes agrediram um menor.
Claudinei Modesto e
Alex Venâncio também não foram além do primeiro grau nos estudos. Quando eram
menores, Alex foi flagrado roubando; e Claudinei se envolveu com tráfico de
drogas e assaltos.
O médico Gustavo
Bonini Castellana, do Instituto de Psiquiatria da USP, fez uma avaliação de 90
jovens infratores, entre 18 e 21 anos, e concluiu:
“A maioria deles
não apresenta um transtorno de personalidade ou uma psicopatia”.
Então, como explicar crimes tão banais?
“A maioria deles comete esse tipo de ato justamente porque aquilo faz parte do histórico de vida”. Essa é a dificuldade: entender que a perda de uma vida não é algo tão banal quanto parece pra quem cometeu o crime, disse o psiquiatra.
Então, como explicar crimes tão banais?
“A maioria deles comete esse tipo de ato justamente porque aquilo faz parte do histórico de vida”. Essa é a dificuldade: entender que a perda de uma vida não é algo tão banal quanto parece pra quem cometeu o crime, disse o psiquiatra.
Mais do que as
condições socioeconômicas, a falta de interação entre pais e filhos, e os
problemas escolares são fatores determinantes para a inserção dos jovens no
mundo do crime. Esta é a conclusão que a psicóloga Maria Delfina Farias Dias
chegou, após realizar seu trabalho de mestrado apresentado à Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp).
A psicóloga analisou 40 jovens em situação de risco entre 12 e 18 anos
das cidades de Santos e São Paulo com situações econômicas semelhantes. Os
dados apontam que 35% dos infratores possuem algum tipo de problema familiar.
No grupo de não infratores apenas 8,7% apresentam o mesmo distúrbio. "Há,
principalmente, uma grande quantidade de famílias monoparentais entre os
adolescentes que cometeram crimes", afirma Maria Delfina.
O problema nessa organização familiar, segundo a pesquisadora, está na
sobrecarga de atividades para o chefe do núcleo familiar e a atribuição precoce
de responsabilidades para o adolescente. Entre os grupos dos paulistanos, não
infratores, o número de adolescentes provenientes de famílias biparentais é de
73% contra 29% dos infratores que vivem na mesma situação.
Maria Delfina conta que os pais dos infratores tinham um distanciamento
da vida cotidiana de seus filhos: tiveram dificuldades em responder quem eram
os amigos, quais eram os lugares de lazer, quais os sonhos e expectativas de
futuro. "Eles, assim, se envolviam pouco com a vida dos filhos e tinham
uma organização pouco rigorosa, não sabiam a hora que eles chegavam a casa, nem
sugeriam um limite".
Nas entrevistas, mais de 35% dos jovens afirmaram ter parentes com
problemas como o alcoolismo ou vício em drogas. "São números altos que
demonstram a necessidade de intervir na realidade dessas famílias de maneira
sistemática criando políticas públicas para atendê-las", diz Maria
Delfina.
Outro fator de risco para a inserção desses jovens na criminalidade
constatado na pesquisa é a defasagem escolar. No grupo de infratores, apenas
dois dos entrevistados tinham concluído o Ensino Fundamental. A maioria era
multirrepetente e apresentava histórico de não adaptação ao cotidiano escolar.
"As escolas não estão preparadas para atender aos adolescentes com
comportamentos 'desviantes' e não tem recursos para estimular esses alunos",
reclama a pesquisadora.
Diante desses acontecimentos
trágicos e dos estudos frequentes relacionados ao da reportagem, vemos que a
vida começa muito antes da concepção, ela começa com o “desejo”, desejar ter
esse filho, "o planejar”, o amar, mesmo antes de “tê-lo”, mas sabemos que isso
nem sempre acontece.
E muitas vezes, essa criança que ainda nem veio ao mundo,
já é rejeitada, abandonada, e em algumas situações são vítimas de tentativa de homicídio
que não deu certo provocado pelos próprios pais.
Tudo isso faz parte do histórico de vida de um
ser humano. Não quero aqui justificar os atos desses jovens que por nada,
tiraram a vida de uma adolescente que tinha um futuro pela frente, nem julgar
essas mães usuárias de drogas, pois elas também trazem um histórico de vida,
mas quero sim, que pensemos na história de vida desses jovens assassinos e de
tantos outros que estão por aí, ou que ainda entrarão nesse caminho. Vamos
fazer as seguintes perguntas:
Por que a maioria não termina nem o primeiro
grau? Será que suas mães foram usuárias de drogas durante a gestão? Esse
abandono escolar será que contribuí para um caminho de criminalidade? Como foi
a infância? Que bases familiares tiveram?
As sucessivas
reprovações e a expulsão da escola também colaboram para esse comportamento
delinquente, sendo que esse fracasso escolar pode ser causado por alguma dificuldade de
aprendizagem, ligados também a fatores socioeconômicos, culturais ou neurológicos.
Tudo está ligado, é
como se fosse uma teia de trágicos acontecimentos e de vidas destruídas. Eu
convivi com alguns adolescentes infratores na Fundação C.A.S.A (antiga Febem),
pois como mencionei, fui professora nesta instituição, e pude ver a história de
muitos jovens semelhantes e até piores do que desses mencionados na reportagem,
muitos já viveram e passaram por coisas terríveis e imagináveis. Foi nessa época
que percebi a dificuldade de aprendizagem apresentada por alguns, e que agora sei, que as dificuldades não surgem assim, mas ela começa lá atrás, antes mesmo
do nascimento.
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